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Me aconselharam a desmamar

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Em dezembro, me atacando ao ar livre

Isso mesmo. Me aconselharam a desmamar. Não foi parente, não foi gente que eu nunca vi na vida, não foram as fofoqueiras de plantão. Foi um médico.

Sentada em uma cadeira no consultório, após conversas sobre como a minha vida como mãe ia indo, falei com todo o orgulho do mundo: “Ótima. Minha filha come bem, dorme bem, brinca e mama bastante. É fã do mamá dela”.
Eu percebi que ele não estava muito à vontade com isso. De maneira alguma me senti desconfortável, porque defendo minhas convicções e sei que estou fazendo o melhor para a minha filha. Mas antes que eu pudesse piscar, eu ouvi, embasbacada, o seguinte:

“Vou te dizer uma coisa. Tem que desmamar até um ano. Porque depois, fica difícil. Leite já não é alimento depois disso, ele é consolo pra criança. A criança chora, vai querer peito . Vai levantar a blusa da mãe querendo teta, teta, teta. Isso é querer segurança e a mãe tem que explicar para o filho que ela dá segurança sem a teta também. A recomendação de amamentar até os dois, três anos, funciona no nordeste, onde tem criança passando fome! Aqui não faz sentido! Mas os pediatras, eles insistem nessa coisa de amamentação, amamentação e amamentação. Eles gostam de se enganar, costumo dizer isso sempre”.

Fiz cara de alface, repolho, quiabo, qualquer coisa inexpressiva. Eu poderia falar milhões de coisas aqui sobre amamentação. Poderia expor fatos científicos que comprovam os benefícios da amamentação prolongada para a mãe e para o bebê. Poderia reproduzir as recomendações da OMS, poderia rebater todos esses absurdos ditos. Mas não vou fazer nada disso. Eu só lamento. Lamento profundamente que centenas de milhares de mulheres não tenham informações, não participem de grupos no facebook, não tenham orientação correta de profissionais corretos e caiam em fórmulas porque “o leite é pouco”, “o leite não sustenta”, “o pediatra mandou”.

Dói, dói muito o meu coração cada vez que vejo isso e rememoro, durante esses quase 11 meses de maternidade, todos os momentos que passei, especialmente no começo, para amamentar. As críticas, a dor, o cansaço. Mas se teve uma coisa que eu nunca tive foi a dúvida. Nunca duvidei da minha capacidade de amamentar e jamais duvidei do que estava fazendo. Eduarda teve épocas de picos de crescimento que passava 12 horas DIRETO pendurada nos peitos, mamando, sugando. Parecia que não havia mais nada, que ela iria secar a minha fonte, mas nada disso aconteceu. E nem poderia, já que 80% do leite é produzido no ato da mamada (se duvidam, leiam aqui). Não caí na tentação de suprir a necessidade dela sugar com chupeta ou mamadeira. Não dei água, não dei chá, não dei suco.

Sentia fome? Peito
Sentia frio? Peito
Sentia sono? Peito
Sentia cólica (nas raras vezes)? Peito
Queria dengo? Peito
Sentia fome outra vez? PEITO.

Peito sempre, porque peito não é só alimento. Ele é carinho, conforto, mimo, amor, consolo, afeto, dengo. É vida, é o melhor de mim que posso dar pra minha filha. Eu sinceramente achava que, depois de 11 meses, eu não ouviria um tipo de crítica dessas, vinda de um profissional. Mas ouvi, essa “amigável sugestão”. E a minha resposta? Bem… a minha resposta é um grande e sonoro “AQUI PRO TEU CONSELHO”.

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Ainda neni, com poucas semanas

Mães, futuras mães, irmãs, tias, avós, amigas. Tenham em mente que TODA MULHER É CAPAZ DE AMAMENTAR. Salvo raríssimas exceções. Demora, dói, mas depois é só alegria. E vale tanto a pena… Acreditem em vocês, na força que vocês têm. Acreditem que é possível, que a saúde dos nossos filhos e filhas agradecerá no futuro. Apoiem a mãe que estiver ao lado tentando amamentar. Incentivem, não digam que ela não pode, que ela amamenta muito, que ela amamenta pouco. É desconfortável, é constrangedor. Se não há nada de importante a ser dito, não diga. Se você não concorda com amamentação, não compartilhe sua opinião com a mãe que acredita que pode e que deseja amamentar. A amamentação não é “problema” só da mãe e do bebê. É dos familiares, dos amigos, dos parentes, dos vizinhos, do cônjuge, da escolinha, do empregador, da vizinha fofoqueira, da que não é vizinha, mas que também é fofoqueira. É papel daqueles que estão ao redor da mãe incentivar, apoiar, aconselhar e estender a mão amiga. SEMPRE.

Eu vou continuar. Mas vou continuar porque não me deixei levar. Porque sei que tanto eu quanto a minha filha precisamos desse ato. Mas dezenas de mães que passam por aquela cadeira desmamaram seus bebês por influência. E aí? Como é que fica? A criança ter o peito arrancado, de uma hora pra outra, porque fulano que ela NEM SABE QUEM É aconselhou.

Difícil, minha gente… Deixo vocês com um excelente texto do Dr. Moises Chencinski: MAMASTÊ

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A primeira mamada, ainda na recuperação. Pelo nosso fotógrafo, paizão e namoradão amado. <3